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Qual o melhor calibre de arma de fogo para uso policial? 40 S&W ou 9 mm?

por Editoria Delegados

A desculpa para o uso do calibre 40 era sobre o ‘Poder de Parada” atribuído a ele

Por Jardel Peres 

A desculpa para o uso do calibre 40 era sobre o ‘Poder de Parada” atribuído a ele. O Conceito de Stopping Power já está ultrapassado. No Século XIX, com a guerra do ópio, decidiu-se fazer um calibre que parasse o oponente com um único disparo (coisa quase impossível quando se fala em arma curta de defesa).

Na época, pensava-se que era possível isso e realizaram diversos experimentos um tanto estranhos, tais como: atirar em um cadáver pendurado pra ver seu deslocamento, disparos em animais etc. Um certo dia, algum iluminado começou a estudar os relatórios de confronto do FBI.

Em 1986, houve um tiroteio em Miami, onde 2 assaltantes de banco foram abordados por 8 agentes do FBI. Houve um confronto e os assaltantes foram alvejados diversas vezes, mas continuaram atirando contra os representantes da lei, inclusive, atingindo vários, até que finalmente perdessem a consciência.

Então, o FBI resolveu dizer que os Agentes estavam usando um calibre ‘anêmico” e por isso não conseguiram parar os oponentes. Porém, um estudo mais detalhado comprovou que os Agentes estavam usando diversos calibres (9mm, 12, .38 etc.), ou seja, o FBI não quis admitir a ineficiência de seus profissionais ou a falta de um procedimento padrão para esse tipo de ocorrência. Encarregada por fazer esse estudo, a S&W, que tinha um contrato com a Agência, ficou de pesquisar um calibre que pudesse neutralizar o oponente de forma eficaz com um único tiro.

Após alguns estudos, a empresa apresentou o calibre 10 mm e, depois de muita reclamação dos Policiais (tinha um recuo muito grande, as armas quebravam com facilidade etc.), desenvolveu o calibre 40. S&W. O FBI passou a adotar este calibre (40 S&W), sendo seguido por outras agências norte americanas e de outros países do mundo, inclusive, o Brasil (diga-se de passagem, sem nenhum tipo de avaliação ou estudo técnico).

Em 2017, o FBI anuncia o retorno ao calibre 9mm para as armas de porte de seus Agentes. Desta vez, eles fizeram um grande estudo técnico e resolveram adotar novamente o calibre antes considerado “ineficaz”. Desta vez, foram usados 3 fatores para basear essa decisão, quais sejam: Fatores psicológicos (estado mental do agressor, uso de droga, a dor é absorvida pela adrenalina, raiva inibe a dor etc.), realidade tática (o número de acertos no alvo é, em média, 20% e, geralmente, não há concentração dos disparos) e a realidade médica que pode ser dividida em 4 fatores:

1) Penetração- é muito importante que o projétil possa atingir entre 8 e 12 polegadas para atingir um órgão ou tecido vital;

2) Cavidade Permanente- que é a capacidade de lesionar o tecido quando da penetração do projétil. O diâmetro das lesões produzidas por calibres de armas curtas é muito parecido, ou seja, de 3 a 5 vezes o diâmetro do calibre, portanto, não há tanta diferença;

3) Cavidade Temporária- que é a lesão causada pelo esticamento do tecido durante a passagem do projétil no corpo humano. Os projéteis de arma curta usados no Brasil, em regra, não conseguem romper a força do tecido (elasticidade do tecido pra causar lesão incapacitante);

4) Fragmentação- que pode ser primária (do próprio projétil) e secundária (fragmentos de ossos etc.). Esse fenômeno nas armas curtas é muito pequeno por causa da baixa velocidade que o projétil é lançado, ou seja, mesma que haja fragmentação ela é considerada irrelevante para a incapacitação do oponente.

Portanto, segundo os médicos que participaram da pesquisa, os calibres de defesa utilizados em armas curtas no Brasil, infelizmente, só incapacitarão imediatamente seu agressor se houver disparo com acerto no tronco encefálico e medula (porque causaria paraplegia ou tetraplegia), se houver uma concentração de tiros na região do tórax e abdômen ou se um grande vaso sanguíneo for atingido.

Como é muito difícil durante um confronto se atingir o tronco encefálico (esse tipo de treinamento é muito comum ao atirador de precisão que necessita neutralizar imediatamente o tomador de refém, evitando que ele possa ter alguma reação ou até mesmo espasmo muscular, vindo a matar a vítima ou outra pessoa no Teatro de Operações.

Ressalte-se, que o atirador de precisão usa arma especial, munição especial, lunetas, estará, em regra, numa posição estática e, geralmente, terá tempo pra visada e disparo de precisão).

Portanto, só nos restaria concentrar o número de disparos no “garrafão”, buscando atingir tudo que está atrás das costelas (coração, pulmão, fígado, pâncreas, artéria Cava, artéria aorta etc.) e abdômen para atingir fígado etc. Busca-se, neste caso, causar hipovolemia e, em consequência a perda da consciência.

Estudos comprovam que a pessoa precisa perder uma média de 30% de seu sangue para que isso ocorra, ou seja, 1,7 litro de sangue que em repouso levaria 1 minuto para que isso acontecesse.

Lógico que, durante um confronto, o agressor não estará em estado de repouso, ele terá sua respiração ofegante, estará se deslocando, mas, mesmo assim, estudos mostram que a média de perda de consciência (atingindo-se essas grandes artérias) cairia para uns 20 segundos, ou seja, ele continuará empreendendo sua agressão até que haja falha de fornecimento de oxigênio para o cérebro e ele, finalmente, perca sua consciência.

Resumindo: utilizando-se qualquer calibre de defesa de arma curta disponível no Brasil, você só conseguirá cessar a agressão se atingir o tronco encefálico, fizer uma grande concentração de tiro na parte do tronco (atrás das costelas onde há os órgãos e tecidos vitais) e na região do abdômen ( visando sempre atingir um órgão que provoque uma grande hemorragia, ocasionando a hipovolemia).

Em regra, o calibre 9mm produz menos recuo, possibilitando a retomada da visada mais rapidamente e, em consequência, um número maior de acertos e concentração de tiros em um mesmo local.

Os estudos comprovam que a penetração é mais importante num confronto porque aumenta a possibilidade de atingir órgãos ou tecidos vitais (o calibre 9 mm, em regra, é mais perfurante).

Não há diferença entre lesões entre o calibre 9mm e o calibre 40 S&W.

As armas no calibre 40 S&W apresentam maior desgaste e menor capacidade de tiro (possuem uma carga de projeção maior e tbém porque o cartucho é maior);

Então, na humilde opinião do autor deste artigo, optaria pelo uso de arma de fogo com calibre 9 mm.

Este texto também serve, no seu entendimento, para confrontar algumas ideias de garantistas e profissionais do Direito que se afastaram da realidade, pautando suas opiniões em modismos e no politicamente correto.

É muito comum ouvir estes comentários por parte desses profissionais:

1) Não podia atirar na perna?

2) Mais de um tiro pode configurar excesso.

3) Precisava dar tanto tiro?

4) Por que não atirou no braço?

5) Os tiros estavam muito concentrados.

6) Fez um buraco muito grande.

7) Usou a munição correta?

8) O agressor não parou com o primeiro tiro?

Sobre o autor

Jardel Peres é Delegado de Polícia.

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