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Presidente de sindicato da PF: “Estabilidade e credibilidade prejudicadas”

por Editoria Delegados

SP: DPF Tania Prado


Mudanças de peças de comando de forma repentina e desgastes públicos de gestores mostram que a Polícia Federal está sujeita a pressões e ingerências que prejudicam a estabilidade e a credibilidade da corporação. A avaliação é da presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal de São Paulo, Tania Prado.

Sérgio Moro deixou o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública no fim da manhã de hoje, atirando contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), argumentando que não poderia permanecer à frente da pasta sem autonomia. O ex-juiz federal afirmou que Bolsonaro revelou querer trocar a direção e as superintendências da PF por “pessoas mais próximas”.

Em entrevista ao UOL, Tania Prado afirmou que “a cada troca ou menção à substituição, uma crise institucional se instala, com reflexos em toda a sociedade que confia e aprova o trabalho de combate ao crime organizado e à corrupção”.

Essas situações evidenciam a vulnerabilidade da PF, que está sujeita a pressões e ingerências de todo tipo.Tania Prado

A presidente do sindicato explicou que o primeiro reflexo disso, na prática, será o da mudança das diretorias, coordenações, chefias, superintendências e delegacias. “Agora, vai demorar cerca de seis meses para que essas mudanças sejam implementadas. Sempre que se modifica o cargo principal da PF, gera-se um efeito dominó, os gestores são escolhidos conforme a confiança do diretor”, diz.

Ela relembra que episódios como esse, de ameaça de mudança, vêm ocorrendo em diversas oportunidades, desde 2019, durante pelo menos os últimos três governos. “E pode voltar a ocorrer nos próximos meses e futuros governos. A PF sempre esteve sujeita a toda forma de pressão externa ao longo de sua existência, porque existe essa vulnerabilidade. Ela está dentro do Poder Executivo, sujeita às decisões do governo do momento no tocante à sua administração”.

Ao deixar o cargo, no entanto, Moro afirmou que, apesar de erros do governo anterior, do PT e MDB, a PF teve autonomia nos trabalhos. “Foi garantida a autonomia da Polícia Federal durante esses trabalhos de investigação, é certo que o governo na época tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção”, disse.

Foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para que se pudesse realizar esse trabalho.Sergio Moro ao deixar ministério

Para Tania Prado, mudanças bruscas e repentinas como a ocorrida hoje “prejudicam a estabilidade da Polícia Federal, a sua governança e colocam em risco a própria credibilidade na lisura dos trabalhos da instituição. O problema não reside nos nomes de quem está na direção ou de quem vai ocupá-la. Mas sim, na absoluta falta de previsibilidade na gestão e institucionalidade das trocas no comando”.

Nos últimos três anos, a Polícia Federal teve três diretores-gerais diferentes. “A cada troca ou menção à substituição, uma crise institucional se instala, com reflexos em toda a sociedade que confia e aprova o trabalho de combate ao crime organizado e à corrupção”, avalia a presidente do sindicato.

“As declarações do ministro Sérgio Moro revelam fatos gravíssimos, que devem ser apurados com o rigor e celeridade necessários. É preciso dotar a Polícia Federal de autonomia na Constituição para impedir ingerências como as que estão ocorrendo”, afirmou Tania.

“Devem ser apurados com todo o rigor”

Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de SP, também repudiou “as ingerências políticas, que resultaram no pedido de exoneração do ex-ministro Sérgio Moro. As declarações do agora ex-ministro da Justiça Sérgio Moro revelam fatos gravíssimos, que comprometem a instituição da Presidência da República e devem ser apurados com todo o rigor que o momento exige”.

“A Polícia Federal não pode estar exposta a tentativas de ingerências políticas e manipulação de interesses. O antídoto contra a excessiva vulnerabilidade da Polícia Judiciária e as odiosas intromissões políticas é a autonomia institucional. O bom desempenho da missão policial está diretamente relacionado com a sua organização de forma autônoma, para a construção de uma Polícia Federal republicana, eficiente, isenta e imparcial”, avaliou.

“Moro provocou PGR a tomar medidas”

Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirou que, na saída do ministério, “Moro provocou o Procurador Geral da República a tomar medidas sobre as graves denúncias feitas de falsidade ideológica na assinatura da demissão do diretor-geral da PF e na tentativa de obter informações privilegiadas”.

“A grande contribuição do ex-ministro Sergio Moro para o país foi escancarar os motivos de sua demissão. Para a segurança pública, sua gestão não foi muito diferente das anteriores e não avançou na construção da reforma das polícias necessárias ao combate à violência e tão desejadas por elas próprias”, disse.

Rafael Alcadipani, professor de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas), complementou que houve “uma tentativa de ingerência nítida, clara na Polícia Federal. O Moro tentou segurar para que não houvesse ingerência, mas o Bolsonaro demonstrou querer ingerir no trabalho da Polícia Federal”.

“O Moro fez bem de sair. Isso é inaceitável. Não é possível que, nesse momento, a Polícia Federal sofra ingerência do presidente da república. Em termo de combate à corrupção, o Moro sai maior ao se desvincilhar. E Bolsonaro vai ter muita dificuldade de se manter no governo com essa situação”, complementou.

UOL

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